Por Fernando Boente
A microrregião de Uberlândia está entre as 20 localidades do país com mais áreas ocupadas por pivôs centrais de irrigação, segundo a Agência Nacional de Águas (ANA) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). De acordo com o “Levantamento da Agricultura Irrigada por Pivôs Centrais no Brasil – Ano 2013”, divulgado pelas duas entidades na semana passada, a zona que engloba a maior cidade do Triângulo Mineiro teria 262 equipamentos do tipo em uma extensão de 18.538 hectares ao todo, garantindo exatamente a vigésima posição dentre todos os locais do Brasil.
O levantamento, que é o primeiro realizado no país, também mostra que as microrregiões de Araxá, Patos de Minas e Patrocínio, todas na região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, aparecem entre as 20. O primeiro estaria em 6º lugar no ranking ao ter 615 equipamentos em uma área de 36.456 ha, enquanto o segundo estaria em 13º lugar ao ter 463 pivôs em 22.219 há. Por último, Patrocínio garantiria o 16º lugar ao ter 320 aparelhos para 20.512 ha de plantação.
Conforme a ANA e a Embrapa, o estudo foi realizado com vistas a prover dados aos gestores públicos para políticas públicas devido à expansão da agricultura irrigada no Brasil paralelamente aos conflitos pelo uso da água. Reportagem publicada pelo CORREIO de Uberlândia já mostrou que, conforme dados do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), a agropecuária local era responsável por utilizar 54,76% do volume total utilizado no Município e região, algo em torno de 286,1 milhões de litros por dia.
Especialistas e autoridades que atuam no setor apontam que as posições destacadas de Uberlândia e demais microrregiões ocorrem pelo fato de a região ser grande produtora agrícola, além do café, de soja e milho e suas respectivas tecnologias. “Os pivôs, que fazem irrigação por aspersão, são a tecnologia mais eficiente. Não se produz sem eles. São produções que geram as sementes e garantem a próxima safra. Não podemos ficar reféns da situação climatológica, que parece estar mudando e temos que nos adaptar”, disse o presidente do Sindicato Rural de Uberlândia, Thiago Soares Fonseca.
Polêmica
Pelo estudo da Agência Nacional de Águas (ANA), o uso de pivôs centrais aspersores, que borrifam a água por cima da plantação, está crescendo cada vez mais no Brasil, mas há quem considere a tecnologia um desafio em relação à sustentabilidade. Em entrevista ao CORREIO em fevereiro, o diretor do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e ambientalista, Cláudio di Mauro, o sistema gera desperdício.
“Parte dessa água cai no solo irrigando a cultura e parte é desperdiçada porque evapora e vai para a atmosfera. E não significa que essa água evaporada vai cair no mesmo lugar em forma de chuva, ela pode se deslocar com o vento. Uma alternativa para a irrigação é o sistema de gotejamento que já cai direto no solo. É preciso convencer os produtores a se modernizarem. Existem tecnologias que reduzem o consumo de água e aumentam a produtividade”, afirmou Cláudio di Mauro.
Produtores
Pelo outro lado, além de as entidades da área afirmarem que o sistema ainda é o melhor custo-benefício mesmo onerando o produtor pelo custo de manutenção, os usuários da entidade defendem o uso. É o caso da escritora, educadora e também produtora rural, Martha Pannunzio.
Junto ao filho Eduardo, ela foi uma das primeiras a usar o aparelho pivô, ainda nos anos 80, em sua propriedade com plantações de soja, milho e sorgo, localizada na MGC-455 em direção a Campo Florido. “O próprio governo brasileiro estimulou no passado a aquisição da irrigação. Se tivesse tecnologia melhor, usaríamos com certeza. Apesar do custo elevado e todos os problemas, ainda é o melhor custo- benefício”, disse.
Novos pedidos
A Superintendência Regional de Meio Ambiente (Supram) do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba tem mais pedidos de outorga de água para irrigação do que pivôs efetivamente autorizados a funcionar na região. São 4 mil pedidos sendo analisado no momento, segundo informou o novo superintendente regional, Franco Cristiano Alves.
Segundo ele, isso representa que a outorga do uso de nascentes e bacias para irrigação passar por um crivo muito criterioso, assim como a legislação manda. “Com a crise hídrica presenciada, estamos trabalhando com mais cuidado e analisando minúcias ainda antes de qualquer liberação”, disse.
Fonte: Correio de Uberlândia/ Irrigação Net