A aparente abundância de água representada pelas chuvas dos últimos meses, podem levar ao esquecimento os episódios críticos de falta de água, tal o qual ocorreu em 2014/15, com fortes reflexos na queda de produtividade canavieira, principalmente na região Sudeste. Os danos causados pela então falta de chuva só não foram maiores porque o setor vem paulatinamente diminuindo a captação de água para o processamento industrial e aumentando a sua segurança hídrica, entendida como a conservação da água para o ano todo.
Na semana em que se comemora o Dia Mundial da Água, cabe ressaltar que o setor sucroenergético vem contribuindo decisivamente na redução do conflito regional pelo uso da água, pela redução da taxa média de captação de água para uso industrial, que há quase quatro décadas atrás, situava-se na faixa de 15 a 20 m3 de água por tonelada de cana processada, para atualmente captar em média cerca de 1 m3/t de cana. Ou seja: uma redução da captação de recursos hídricos da ordem de 95 %, diminuindo as pressões locais no uso desde importante recurso natural.
Naturalmente esta queda no consumo hídrico para uso industrial na fabricação de açúcar e etanol foi proporcionada por investimentos em reuso de água através de tratamento e recirculação, otimização do balanço hídrico industrial e adoção de novas tecnologias como, por exemplo, a limpeza a seco da cana.
Em relação à oferta mínima de água no Estado de São Paulo, o setor demanda apenas 2,5% de água para seu uso industrial, o que derruba o mito de que o setor sucroenergético capta uma grande quantidade de água. Muito ao contrário, o setor necessita de uma alta quantidade de água para o uso industrial, cerca de 22 m3/t cana, mas praticamente todo esta necessidade está em sistema de reúso, bastando apenas uma pequena percentagem de captação para a reposição das águas perdidas, principalmente por evaporação devido às importantes etapas de resfriamento de água em circuitos fechados.
Uma outra necessidade do setor é a irrigação dos canaviais, muito importante para as regiões com déficit hídrico, e também uma necessidade na maioria da região para a irrigação de salvamento, para a rebrota da cana na época da estiagem. O setor tem como recurso usar intensamente ás águas residuárias e também a vinhaça para propiciar uma lâmina líquida para este período, mas também tem considerado a obtenção de outorgas de água para este fim, principalmente no caso de irrigação de salvamento em episódios críticos de estiagem. Aliás, os episódios críticos de estiagem deixaram um forte recado para a sociedade de um modo geral e em particular para o setor: a segurança hídrica, que também passou a ser uma preocupação do setor sucroenergético, no sentido de se conservar a água no ano todo. Além da conservação de solo visando manter o solo e a água na propriedade, também a recuperação de nascentes e mata ciliar, o reúso de água com tecnologias com alta eficiência hídrica, tecnologias de otimização da irrigação, barramentos visando o aproveitamento da água de chuva e o uso de águas subterrâneas, são elementos importantes para se aumentar a segurança hídrica das usinas. Assim como o planeta, a cana também tem 70% de água na sua constituição, e isto também deve ser objeto de pesquisa, para se reutilizar água da própria cana, o que pode ser incrementada com fomente às novas tecnologias, como por exemplo a concentração de vinhaça que propicia além de um excelente fertilizante, produz água pura para o processamento industrial.
(Texto de André Elia Neto para o site da Única)